25 de Abril de 1974: Democratizar, Descolonizar, Desenvolver
Tenho dois familiares que comemoram hoje o seu aniversário. Há até um deles que comemora a exacta idade da Revolução: 38 Primaveras para o meu familiar, 38 Invernos para a Revolução.
Sim, porque os ideais e os valores pelos quais se fez esta Revolução ainda não foram cumpridos, ainda não viram, verdadeiros, dias de sol.
Por estes dias, ouvi Miguel Sousa Tavares dizer que "as cerimónias repetidas à exaustão acabam por ser contraproducentes". Que a juventude de hoje em dia, as cerimónias "não querem dizer absolutamente nada".
"Comemorar datas históricas indefinidamente, sempre com o mesmo discurso, como se tivesse acontecido anteontem, e já passaram quase duas gerações em cima disso é ridículo, é patético e dá cabo da data", continuava MST. E rematou o assunto com "devia-se acabar, pura e simplesmente, com as comemorações oficiais do 25 de Abril".
Raras vezes discordo de Miguel Sousa Tavares, mas nisto não podia ter uma visão mais antagónica.
Deve comemorar-se Abril, deve lembrar-se a data e tudo o que ela significa. Mas muito mais que lembrá-la é preciso cumpri-la. É preciso que cada um assuma para si o papel que tem de tomar para que a data faça sentido e não seja só um apanhado de discursos estudados a preceito e repetidos ano a ano. Porque o 25 de Abril é de todos nós. Tão pouco a Revolução é dos militares que a fizeram, é sim do Povo Português, porque foi em nome dos portugueses que ela foi feita. Como tal, atitudes semelhantes à de Mário Soares não contribuem em nada para inverter o caminho, que Soares, alega estar a ser tomado por este Governo e que é contra os valores e os ideias da Revolução.
Se nos abstemos de celebrar a Liberdade que, defendem muitos, está a ser posta em causa, nada mudará.
Hoje não estão tanques nem Salgueiros Maia nas ruas. Não é preciso. Basta lembrar que já lá estiveram e que falta cumprir esse dia. Basta lembrar isso mais uma vez e todas as que forem precisas.
Hoje não é o dia de "castigar" o Governo pelos caminhos que está a tomar. Uma figura como Mário Soares escrever no dia de hoje, ataques ao Governo não ajuda em nada a situação actual. É preciso que cada vez estejamos mais unidos, em torno dos ideias de Abril, e uma figura como Mário Soares sabe bem que nada contribui para tal com esta tomada de posição. Como ouvi, e desta vez plenamente de acordo, de Miguel Sousa Tavares, se há coisa que se está a cumprir dos ideais da Revolução é a Democracia. Este Governo não foi eleito por golpe de estado. Está onde está porque foi eleito, democraticamente, pela maioria dos portugueses.
Ouvi Mário Soares, há meses, dizer numa palestra dirigida a jovens que "é preciso que vocês confiem vocês próprios e pensem pela vossa cabeça e digam o que querem porque a vossa voz tem que ser ouvida". E a nossa voz é ouvida se ficarmos em casa e nos demitirmos de celebrar Abril?
Por fim, não podia deixar de lembrar hoje Miguel Portas.
Li Júlio Machado Vaz dizer que talvez ele tenha partido, ontem, para "celebrar - ou perseguir? - ainda e sempre o 25 de Abril."
Assim tomemos o seu exemplo e celebremos Sempre o 25 de Abril. Politicamente falando, tenho uma posição distante da de Miguel Portas, ainda assim admiro-o. Porque eu não admiro os que acreditam no mesmo que eu, admiro todos os que Acreditando em algo lutam por esse ideal. Se batem, enfrentam desafios e fazem o que está ao seu alcance para atingir aquilo em que acreditam. Embora não defendendo nem acreditando nas mesmas ideologias que ele, admiro-o porque ele lutava por aquilo em que acreditava e era certo para si - e isso basta-me!