sábado, 21 de julho de 2012

Que pensamento vais levar vestido hoje à noite?

Por recomendação de terceiros, li hoje Pedro Chagas Freitas.
Uma escrita irreverente, ousada, desconcertante, corrosiva, intensa, directa - que me deixou fã.

E este texto é, absolutamente, Fa-bu-lo-so!

"O tesão tem razões que a própria razão conhece.

É da razão que o tesão que verdadeiramente nos ergue vem. O tesão corporal nasceu para ser deitado abaixo: para ser derrotado pelo tempo. O tesão intelectual é o único tesão que não se verga a um qualquer orgasmo. O cérebro é o órgão mais sexual do corpo. A inteligência é pornografia do mais alto quilate. Erotismo de topo. A inteligência é mais tesuda do que a mais tesuda das lingeries. A inteligência é a Soraia Chaves da alma. O Brad Pitt do espírito. A inteligência é tesão em estado burilado. Há o tesão puro, em estado bruto: o do sexo erecto e molhado. E depois há o tesão burilado, o racional. Uma frase inteligente é um orgasmo consciente. Um pensamento inteligente é um ai de clímax. Dá mais tesão uma reflexão do que um apalpão.

Todo o prazer vem da língua.

Mas os burros acreditam que é da língua que sai da boca. E os inteligentes sabem que é da língua que sai do cérebro. Excitar é pensar. E mais ainda passar para palavras, para a língua que comunica, aquilo que é pensado. Dar tesão é dar tensão. Tensão intelectual, tensão emocional, tensão total. E é da cabeça, da que pensa, que sai isso tudo. Pensar é sedução. E pensar só existe quando é transposto para comunicação: palavras, gestos, esgares, gemidos. Pensar só existe quando é transposto para comunicação. A comunicabilidade é o mais importante constituinte da genialidade. Qualquer génio incapaz de comunicar passa por burro. E qualquer especialista em comunicação, mesmo que seja burro, passa por génio. O processo de excitação – e o processo de sedução – sustenta-se em alicerces voláteis: um passo em falso e adeus: bye-bye, noite de prazer. Uma mensagem mal transmitida e mal interpretada pode ser a morte do artista. E de nada vale a língua que sai da boca quando a língua que sai do cérebro não é competente. O sedutor é o Deus da comunicação. O Todo-Poderoso da capacidade de dizer exactamente aquilo que quer dizer. E, sobretudo, conseguir exactamente aquilo que quer conseguir com aquilo que quer dizer. Para ser um sedutor é preciso ser um pensador. Repito: para ser um sedutor é preciso ser um pensador. E só de pensar nisso até já estou com calor. Ai.

A beleza ladra, mas a inteligência passa.

Passa de passar, passa de prosseguir, passa de continuar. Passa de passar sem pestanejar, sem ligar, sem sequer hesitar. E passa de passar a ferro. A inteligência passa a ferro. E dá com um ferro. Tritura. Devora. A inteligência passa. E é por isso que fica. Até porque a inteligência é a única das formas de beleza que até pode ser feia. A beleza que não é palpável não é mutável. A beleza de um pensamento, de uma decisão, de uma forma de agir, é eterna. A beleza de um par de mamas passará a ser, por mais operações que a vida te ofereça, a velhice de um par de mamas. A excitação que depende de um par de mamas é uma contra-ordenação. E é tempo quem se encarregará de te passar a multa por excesso de superficialidade. A excitação nasce no cérebro e morre no cérebro. Mesmo que passe por outras partes em que acreditas que ela se aloja: a excitação nasce no cérebro e morre no cérebro. Não pensar é a única forma possível de impotência. Raciocinar é a única forma possível de Viagra. Podes raciocinar em azul, em vermelho ou em verde: raciocinar é a única forma possível de Viagra. Já tomaste o teu hoje?

A imaginação é o maior alimento da pulsão.

E a maior fome também. Imaginar algo que já existe não deixa de ser imaginação. Imaginas, mais do que o não tens, aquilo que tens. Imaginas como seria o que já é, como aconteceria o que já aconteceu, a que saberia o que já soubeste saber. A imaginação é sempre intocável. E é, sempre, dizível. É a imaginação, muitas vezes, que te coloca no chão: que te faz pensar por sobre o que vês – e te evita ficares por sob o que queres ver. A imaginação é o sustento da pulsão. E, ainda assim, a sua degradação. Imaginar o Cristiano Ronaldo velho e cheio de rugas e peles caídas é deprimente. Imaginar o Woody Allen velho e cheio de rugas e peles caídas é atraente. Até porque, bem vistas as coisas, o Woody Allen já está velho e cheio de rugas. E não deixa de excitar, mundo fora, milhões de pessoas. Não acreditas? Pois. Sempre me pareceu que não és lá muito sensual.

Agora escolhe: que pensamento vais levar vestido hoje à noite?"


Pedro Chagas Freitas

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